domingo, 18 de diciembre de 2011

Roda Gigante


A vida é cíclica. Dá voltas, volta à casa. É como uma roda. Acho que a minha é uma roda de uma bicicleta, que vai dando voltas e ao mesmo tempo que parece que já vi o que passou, estou por outro lado em outro lugar, outra vista, outro passeio. Outra etapa. As vezes é como o Tour-de-France. Umas etapas mais de subida, outras mais planas, dando voltas e aprendendo a não ficar enjoada de tanto rodar. Algumas vezes com mais esforço, outras com menos. Também tem etapas de descanso. Gosto da vida com ritmo de roda de bicicleta. Tem gente que dá voltas como roda de Fórmula 1. É tudo tão acelerado, não pode ser bom. Prefiro uma roda-viva, uma roda-gigante, ou rodar como um pião...  Também adoro roda de choro e roda de samba.

Na brincadeira de roda da minha vida, sempre dividi as etapas e os anos pelas casas onde vivi.

Os primeiros, em Angra dos Reis, até os dois anos de idade, não me lembro de nada, mas era uma casa num condomínio de funcionários da Petrobrás perto da praia, deliciosa; depois veio a casa onde mais anos passei, em Niterói, dos 3 aos 17: uma casa de vila onde em cada uma das 28 casas tinha uma família com crianças, uma turma imensa inesquecível que me marcou toda a vida; houve no meio tempo uma pausa pelos Estados Unidos, em Houston, dos 4 aos 6, que me marcou também definitivamente, mas nesse caso foi uma marca para a vida profissional como professora e tradutora.

Com a independência (a minha) aos 17 (por causa da universidade, já que agronomia não tinha pelas bandas do Rio de Janeiro), comecei uma etapa de afastamento da casa materna: 6 anos em Piracicaba, dos 17 aos 23 anos morando em república, uma vez mais uma etapa inesquecível pois éramos entre 7 e 11 meninas numa casa grande, mas não era a mansão que se possa imaginar para caber tanta gente, ou seja, foi uma experiência única de aprender a dividir tudo; de lá fui seis meses por Friburgo, no Rio, para fazer práticas em uma escola técnica agrícola - essa aliás foi a primeira vez que me iniciei no assunto de não morar em uma casa: era um alojamento estudantil com um único morador (eu).

A partir de então começou uma etapa bem diferente, cheia de mudanças contínuas. A etapa de forasteira. Creio que essa é a terceira etapa da minha vida: primeiro com 1 ano de volta aos Estados Unidos, dessa vez em uma casinha meio apê-estudio; oito meses de volta a Piracicaba variando entre o apê e a casa de uma amiga-familía. E, a partir de 2000, a vida na Espanha. Aqui morei de verdade no meu primeiro apartamento, dividido com dois estudantes em Madrid. Depois começou uma etapa com uma sequência de apartamentos, desta vez em Barcelona: umas colegas uruguaias em Virei Amat e Fabra e Puig, uma maluca na Sagrada Família, amizades e uma amiga de verdade em plena Calle Verdi de Grácia e um estúdio também por lá durante um ano perto da praça Rovira. Por fim, acabando essa peregrinação, vim para o apartamento onde levo seis anos, no Clot, completando aqui meu 10º aniversário em Barcelona, onde deixei de ser peregrina mas continuei vendo muita peregrinação, gente de passagem e romaria passar pela casa (quero dizer, apartamento). Umas peregrinas bem queridas passaram por aqui. E eu aqui fiquei até formar família completa em ordem contrária da habitual. E de aqui nos vamos os três, para o que eu considero que será a quarta etapa - voltar a morar em uma casa.


Etapa 4

É uma casa muito engraçada, mas tem teto e chão.
Espero que se possa deitar na rede,
porque a casa sim que tem parede
(e eu tenho uma rede guardada comigo há muitos anos esperando por isso!).
Está feita com muito esmero,
(numa rua perdida num vilarejo meio afastado de Barcelona, número 5)
 Uma casa no campo,
do tamanho ideal,
onde ficar no tamanho da paz,
e meu filho de cuca legal.
Onde eu posso plantar meus amigos,
discos,
e nada mais.
(Zé Rodrix e Tavito)